Coisas belas e sujas: descortinando a ilegalidade do submundo londrino
Em Coisas belas e sujas (Dirty Pretty Things, 2002) do renomado diretor Stephen Frears o tráfico de órgãos humanos é a temática central. A qual se desdobra o subtema da imigração.
Acompanhamos por meio da rotina de trabalho do protagonista Okwe (Chiwetel Ejiofor), um nigeriano ilegal em Londres que trabalha como motorista de táxi e recepcionista do Hotel Baltic, no qual decorre a maior parte da história do filme.
O hotel além de empregar imigrantes ilegais como o nigeriano. A camareira turca Senay (Audrey Tautou) é ponto de trabalho para os encontros da prostituta Juliette (Sophie Okonedo) com seus clientes. Além de servir como local de operações clandestinas para a retirada de órgãos humanos. Vendidos no mercado negro pelo inescrupuloso gerente Juan (Sergi López).
A atividade ilegal é descoberta por Okwe. Sem saber que o patrão é o responsável pelo comércio de órgãos decide informá-lo. O gerente ao assumir que comanda o comércio ilegal ameaça o nigeriano de deportá-lo e denunciá-lo para a polícia de imigração.
Dividido entre denunciar o patrão ou omitir o que sabe para não ser deportado. O imigrante confidencia com os amigos o que sabe, os quais aconselham a não se envolver.
Intrigado com o dilema moral Okwe passa a ser chantageado pelo patrão. Que descobre seus conhecimentos em medicina. E deseja utilizá-lo para realizar as operações. Resistindo a principio Okwe decide ceder. Após ver que a amiga e camareira Senay aceitou doar um de seus órgãos em troca da legalidade.
Sem saída e para não por em risco a vida da amiga. Okwe elabora uma estratégia inteligente e sagaz com o auxílio da prostituta Juliette e de seu amigo médico legista Guo Yi (Benedict Wong) para salvar a amiga e vingar-se das explorações e abusos do mercenário Juan.
Ao final, após pagarem um alto preço pela liberdade, Senay consegue sua legalidade partindo para Nova York e Okwe retorna para Nigéria.
Além de atuações incríveis de Chiwetel Ejiofor que constrói um protagonista convincente e dotado de polidez moral que nos encanta com sua generosidade e lealdade para com todos os que necessitam de sua ajuda, o filme ainda conta com a beleza graciosa e talento de Audrey Tautou em uma personagem doce e que mesmo em meio aos abusos que sofre em sua condição de mulher e imigrante mantém a esperança em seu sonho de uma vida melhor na América.
Outro destaque entre as atuações está a do veterano Sergi López na pele do sórdido Juan e na de Sophie Okonedo que bem distante do padrão de interpretações de garotas de programa no cinema nos entrega uma atuação moderada e imprescindível em momentos pontuais do filme, construindo uma personagem humanizada e espontânea.
Soma-se a esse elenco sintonizado o roteiro primoroso de Steven Knight ao compor uma trama de denúncia sem deixar de lado a sensibilidade de seus personagens, abordando de forma realística, temáticas importantes como o tráfico de órgãos e a difícil vida dos imigrantes ilegais.
As coisas belas e sujas funciona como um filme denúncia sobre o submundo do tráfico de órgãos e os abusos sofridos pelos imigrantes em países estrangeiros. O filme ainda critica a hipocrisia social que relega a invisibilidade seres humanos que, vítimas de formas diversas de abusos, lutam nos grandes centros urbanos pela sobrevivência.
Neste filme de Frears é possível ainda a analogia de que tal como um hotel de luxo que camufla na sofisticação atividades ilícitas, assim é a sociedade que oculta pessoas a um lugar marginal e ao mesmo tempo em que as rejeita usufrui do que elas produzem ou oferecem para manter o sistema funcionando.
Referências
Coisas belas e sujas. Direção: Stephen Frears, 2002, 97min, son.,color.
