Colateral e a imensidão solitária das ilhas urbanas
O táxi é o pequeno mundo de Max (Jamie Foxx) em meio ao caos urbano de Los Angeles, a qual percorre todas as noites. Em uma de suas viagens noturnas o destino com suas artimanhas coloca o sociopata Vincent (Tom Cruise) em seu caminho. O que seria mais uma viagem rotineira se transforma em uma noite caótica com assassinatos, equívocos e tiroteios, e em meio a tudo isso uma complexa relação surge entre taxista e passageiro.
O idealismo de Max, um cidadão comum e de bem, se depara com o racionalismo do matador de aluguel Vincent. O sonho de ser bem sucedido no mercado de serviços de limusine de um lado e de outro o dever de matar por dinheiro.
Nesta noite incomum Max em uma cumplicidade forçada por Vincent compartilhará com o mesmo momentos de reflexão sobre suas existências e sobre a cidade que habitam, a qual constitui-se de pequenas ilhas: o táxi de Max, as ruas de Los Angeles à noite, o escritório vazio da promotora Annie (Jada Pinkett Smith) e os bancos desocupados do metrô.
Em meio a tanta solidão urbana encontram-se Max e Vincent cada um invisível em suas respectivas profissões em uma cidade sem conexão, na qual Vincent está apenas de passagem para executar cinco pessoas envolvidas em um julgamento sobre tráfico de drogas.
Contudo, na contramão dos planos do matador Max lutará para sobreviver e tentar salvar ao menos uma das vítimas do vilão : a promotora Annie que coincidentemente havia feito uma viagem em seu táxi horas antes de Vincent.
Em uma fotografia bela e deprimente onde tudo remete à solidão e vazio, Colateral ainda reúne desempenhos magníficos de Cruise como um vilão perigosamente encantador e Foxx encarnando um cidadão comum e de bem. Com seus destinos ligados os personagens são conduzidos em um roteiro coerente potencializado por uma trilha sonora que mistura densidade e tensão.
A cidade pode ser considerada uma das protagonistas da trama, uma vez que mais que cenário real das ações da história está presente nos discursos dos personagens, os quais de certo modo são reflexos da metrópole que habitam ou apenas transitam.
A uniformidade das existências cosmopolitas reduzidas a estatísticas da violência urbana é ainda reforçada com o final de Vincent, morto, com seu terno cinza (mesmo tom da cidade) e deixado por Max e Annie no banco do metrô vazio.
Colateral é mais que um filme de ação, é uma reflexão sobre a vida nos grandes centros urbanos na totalidade de seus paradoxos, conflitos, violência e banalidade.
Referências
Colateral. Direção: Michael Mann, 120 min, 2004.