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O amor à prova: Drake Doremus o cronista dos sentimentos

Drake Doremus

Conheci o trabalho de Drake Doremus em meados de 2012 ao assistir ao encantador Loucamente Apaixonados (2011) dali em diante minha curiosidade sobre seus projetos aumentou e três anos depois me deparei com o longa-metragem distópico assombrosamente belo Equals (2015), no qual pela primeira vez admirei uma atuação de Kristen Stewart. Recentemente assisti Newness (2017) uma crônica fílmica franca sobre a fugacidade das relações amorosas contemporâneas na era dos aplicativos de relacionamentos.

O amor e a câmera voyeur

O relacionamento amoroso é a temática de seus trabalhos. Drake combina perfeitamente um roteiro inteligente, cativante, com doses de ousadia tendo como matéria prima um elemento complexo ainda em crises identitárias: o ser humano. 

Apesar de parecer clichê e repisado seus temas são bem trabalhados por meio de escolhas prudentes, dentre elas: elenco sintonizado, utilização de plano detalhe enfatizando a importância do gestual como significante do contexto amoroso representado e uma direção de fotografia que carrega sua assinatura em cada tom, luz e sombra.

A sabedoria em orquestrar os posicionamentos e movimentos de câmera também é uma constante em seus trabalhos. A câmera tal como um voyeur ora posiciona-se distante dos casais a mostrá-los em passeios e outras atividades, ora os mostra em primeiro plano aproximando o espectador dos personagens em suas rotinas compartilhadas. Ainda em planos detalhes e close up nos coloca como espectador-testemunha destes relacionamentos. Que quando notamos, estamos de tal modo envolvidos na relação do casal que ao final fica difícil desligarmos-nos dela.

Considero Drake Doremus um dos melhores cineastas independentes contemporâneos.

Ele se diferencia dos demais por todos os elementos já referidos. Bem como por trazer à tona as fraquezas humanas ao mesmo tempo em que mostra seus dilemas e complexidades para no fim. Como um cronista romântico da sétima arte nos mostrar o triunfo do amor. O qual é a única esperança para tempos dominados pela volatilidade das relações.

Analisarei aqui apenas três de seus filmes apesar de sua filmografia considerável e digna de consulta a todo bom admirador do cinema independente de qualidade.

Loucamente apaixonados: impossível não se apaixonar

Poster: "Loucamente Apaixonados"
LOUCAMENTE APAIXONADOS(2011) – DRAKE DOREMUS; ANTON YELCHIN, FELICITY JONES

Foi em um destes fins de semana ociosos que navegamos pelo Youtube e ao acaso encontramos um bom conteúdo que descobri Loucamente Apaixonados (2011). Logo nos momentos iniciais da história de Anna e Jacob me rendi ao poder magnético deste casal interpretado belissimamente e com delicadeza extrema pelo saudoso Anton Yelchin e a doce Felicity Jones. A escolha destes rostos diferentes do padrão hollywoodiano surreal imprimiu mais veracidade a história deste casal cativante. Acompanhamos a evolução do relacionamento desde o início da paixão, das trocas de carícias, seu desgaste e discussões, rompimentos e retornos. O repertório de lembranças aparece tanto no momento de distanciamento quanto no de intimidade decorrente da nova reaproximação.

Contudo, reatar depois dos objetivos individuais e de terceiros atravessarem o relacionamento é tão difícil como tentar colar os fragmentos do vaso que se quebrou. Afinal, o amor é suficiente para cicatrizar as feridas e superar as mudanças subjetivas?

Equals: a busca por seu equivalente

EQUALS (2015) – DRAKE DOREMUS; NICHOLAS HOULT, KRISTEN STEWART
EQUALS (2015) – DRAKE DOREMUS; NICHOLAS HOULT, KRISTEN STEWART

Em um mundo em que as emoções humanas são rigidamente controladas indivíduos geneticamente desprovidos de sentimentos são gerados e habitam a Atmos. Nesse cenário onde são considerados ‘defeituosos’ aqueles que apresentarem alguma emoção. Estes acabam sendo isolados e tratados para a expurgação de qualquer emoção e sentimento. Nesta situação encontram-se Nia e Silas os protagonistas de mais um estudo amoroso de Doremus. Silas levava uma rotina absolutamente regrada até o despertar de um sentimento desconhecido por Nia. A qual guardava em sigilo o fato de estar ‘contaminada’ que no contexto refere-se a estar sujeita a emoções. Apesar de ir em busca de ajuda médica local Silas passa a não ter mais controle  de suas ações e gradualmente manifesta reações derivadas desse novo sentimento que mesmo sendo perturbador parece atraí-lo mais a Nia.

Vencido por suas emoções passa a seguir Nia que se inicialmente se constrange e se incomoda. Em uma antítese perfeita que é afinal o amor. Depois vê-se envolvida pelo mesmo sentimento de forma incontrolável que a única saída é entregar-se a ele.

A partir deste momento de entrega mútua do casal a esse sentimento irrefreável testemunhamos belíssimos planos de momentos compartilhados pelo casal que troca carícias e confidências encontrando nas brechas da vigilância instantes felizes para trocarem beijos escondidos, abraços e toques singelos.

Entretanto, em uma sociedade controlada em que é proibido sentir, amar é algo arriscado. Temerosos da descoberta do romance proibido, apesar de buscarem ajuda no trio de amigos Jonas, Bess e Mark do grupo de apoio (demonstração da capacidade humana em sobressair-se e burlar as regras mesmo em sistemas controlados) secreto existente na Atmos o casal vê seus planos de fuga interrompido pela descoberta da gravidez de Nia e sua reclusão, além de ameaçados pela descoberta de um inibidor que elimina as emoções e que já estava sendo aplicadas nos membros da Atmos.

Ao final, após contratempos e desencontros, estes responsáveis pela atitude extrema de Silas em se submeter a cura pelo inibidor e o posterior reencontro com Nia agora temerosa com o futuro da relação devido ao período de absorção do inibidor, o qual permitirá a manutenção das lembranças, porém desprovidas de sentimentos.

É possível o amor ser tão forte a ponto de superar a inibição das emoções? Apesar do final em aberto escolhido pelo cineasta um único gesto de Silas parece responder a esta questão quando ele se levanta e decide sentar-se próximo a Nia no vagão do metrô dando-lhe uma das mãos.

O toque é a confirmação do elo reatado pelo casal em uma demonstração emocionante do triunfo do amor sobre qualquer empecilho.

Newness: o amor na era das redes sociais

Poster: "Newnwess"
NEWNESS(2017) – DRAKE DOREMUS; NICOLAS HOULT. LAIA COSTA

“Amor são duas pessoas que não se dão por vencidas”

O excerto acima é uma das falas do personagem Paul amigo e confidente do protagonista Martin quando aconselha este em relação a sua turbulenta vida sentimental.

Porém, faz-se necessário antes de prosseguirmos nesta reflexão apresentar um breve resumo do filme Newness (2017), o qual conta a história de Martin e Gabi, os quais a procura de novas maneiras de relacionar contam com o auxíliodo aplicativo de namoro denominado Winx (app fictício similar ao Tinder), no qual se conhecem.

Representantes máximos do modo de relações contemporâneas os protagonistas antes de se conhecerem se entregam a relações baseadas apenas no sexo casual mostrado em cortes rápidos e intensos logo no inicio do filme a cada match feito por ambos. Após uma série de encontros desprovidos de sentimentos eles se conhecem no app e acabam envolvendo-se sentimentalmente tornando-se inseparáveis. A convivência além de cumplicidade, sexo e amor traz também discussões e desgaste ao que decidem mudarem os rumos do relacionamento deixando-o ‘aberto’ a novas experiências que vão desde flertes com outras pessoas ao ménage à trois.

Contudo, o desejo em manter uma relação em que a infidelidade não é problema acaba quando fantasmas do passado de Martin, aqui representado pela ex-esposa Betanny, ressurge nas lembranças de Martin e quando Gabi tal como ele rompe a privacidade do companheiro assistindo os arquivos pessoais de Martin com a ex-esposa, do mesmo modo faz Martin ao vasculhar o caderno de anotações de Gabi e encontrar o colar dado a ela pelo experiente e divorciado Larry, com o qual ela saia freqüentemente.

A ruptura com a privacidade faz o casal separar-se. Mas não em definitivo já que durante este período distanciados Martin reencontra a ex-mulher e faz as pazes com o próprio passado. Despindo-se desta memória até então traumática. Enquanto Gabi em uma discussão é confrontada por Larry em relação a sua ausência de maturidade frente a vida e as escolhas que esta exige.

Por fim, a necessidade de autonomia afetiva é vencida pela de pertencimento. Uma vez que Martin e Gabi decidem de vez pertencerem-se um ao outro somente, cientes dos riscos e dificuldades presentes no relacionamento a dois.

Ao mesmo que por um lado Doremus nos leva a refletir sobre a fragilidade das relações amorosas cada vez mais fugazes e desprovidas de sentimentos colocando à prova a monogamia entre os casais, por outro lado nos mostra no interior de sua história a durabilidade da vida à dois representadas pelos pais do próprio Martín e pelo casamento sólido do melhor amigo Paul.

E por falar em Paul, retomamos aqui ao ponto inicial deste tópico, no qual comentávamos acerca da frase do personagem ao aconselhar o amigo. De forma simples e ao mesmo tempo poética o personagem resume este sentimento complexo e ainda não totalmente compreendido: o amor.

Seguindo a ótica de Paul não nos deixemos dar-nos por vencidos e aceitemos o amor com todas as suas delícias e dissabores.

OS ELEMENTOS DO CINEMA DE DRAKE DOREMUS

Fotografia

É praticamente impossível dissociar as histórias de seus filmes da fotografia. Cada tonalidade, cada luz ou ausência e luz reflete sentimentos e emoções dos personagens. Os tons azuis, azuis roxeados, alaranjados e avermelhados suaves aparecem na maior parte de seus filmes. O uso constante das silhuetas em ambientes de pouca luz. A transparência dos vidros para dar visibilidade as ações amorosas e os leves tons laranja complementam a atmosfera intimista das histórias.

Trilha Sonora

Assistir aos filmes de Doremus é contar com uma entre várias certezas comuns em suas narrativas amorosas fílmicas: a trilha sonora impecável. Criterioso na escolha das músicas o cineasta percorre desde a música clássica, ambiente, eletrônica até o indie rock. Como uma minoria de cineastas. Doremus consegue integrar a música de forma tão homogênea em suas histórias de modo sutil e inteligente concedendo uma atmosfera dotada de suavidade e sensualidade sem ser incômoda ou vulgar. 

O Banho: momento de reflexão e afetividade

O banho é um dos elementos onipresentes nos filmes de Doremus. Dotado de significado o banho ultrapassa a sua função usual de limpeza do corpo. Mas torna-se tanto um momento de reflexão solitária sobre um sentimento ou relação amorosa. Tanto como um momento amoroso compartilhado entre o casal assim também como uma oportunidade de reflexão conjunta sobre a relação e suas memórias funcionando às vezes como o último momento de intimidade do casal.

Logo, o banho desenvolve-se nas histórias de Doremus como um elemento catártico dos personagens.

O cineasta e suas parcerias

Como todo cineasta que se preze Drake Doremus também tem seu grupo de atores favoritos. Com os quais já realizou mais de um trabalho, dentre eles a delicada Felicity Jones, o belo de olhos verdes hipnotizantes e promissor ator da nova geração Nicholas Hoult, o veterano Guy Pierce e o ator-amigo Matthew Gray Gubler.

O que há em comum nestes atores é o fato de a cada personagem, concedido a eles pelo cineasta. Eles trabalham novas nuances de suas respectivas atuações, ao mesmo tempo em que recorrem a aspectos já utilizados na construção de seus personagens.

O que diferencia cada um deste elenco de ‘favoritos’ do cineasta é a suavidade mesclada. Com uma sensualidade discreta de Felicity em seus papéis. O charme magnético e capacidade emotiva do talentoso Hoult. O estilo modesto e misterioso de Pierce que não permite que sua experiência obscureça por qualquer soberba frívola suas interpretações como normalmente ocorre com alguns veteranos. E por fim Gubler este conheci por meio de seu cômico personagem Paul na comédia romântica 500 dias com ela (2009) de Marc Webb. Desde então notei que Gubler sabe como ninguém trabalhar a veia cômica e dramática de modo equilibrado fugindo do humor forçado e caricato.

Essa somatória de talentos dirigida por um diretor despretensioso e brilhante ajudam a compor o estilo único de Doremus.

E você já conhecia este cineasta? Qual a sua opnião sobre ele, deixe no comentarios o que achou do texto…

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