ESPECIAL DIRETORES
É difícil definir Cameron Crowe como um cineasta apenas, pois para além do domínio da sétima arte o diretor é um grande conhecedor do universo musical, isso graças ao longo período que trabalhou, ainda adolescente, como editor contribuinte da revista Rolling Stone.
Não pretendo aqui fazer um estudo aprofundado sobre a biografia e carreira cinematográfica do cineasta, mas deter-me a uma breve análise das características de seu cinema atendo-me a três filmes de sua filmografia: Jerry Maguire: a grande virada (1997); Vanilla Sky (2001) e Tudo acontece em Elizabethtown (2005).
Os três longas reúnem cada um a seu modo particularidades típicas do cinema de Crowe marcado pelo protagonismo masculino, pela complexidade da relação paterna, por personagens femininas inspiradoras e por trilhas sonoras primorosas.
Homens: sexo frágil?!
É comum nos filmes de Crowe os homens ocuparem a centralidade das histórias, estas alicerçadas na tríade: êxito→ declínio→ superação. Jerry (Tom Cruise), David (Tom Cruise) e Drew (Orlando Bloom) experimentaram o sucesso em suas respectivas profissões, mas todos são repentinamente assolados por um dia fatídico que muda o curso de suas vidas até então ‘perfeitas’. Um memorando ousado mal recebido pela empresa faz o agente esportivo Jerry Maguire ser demitido, uma carona fatal com uma amante ciumenta resultando em um trágico acidente transforma em pesadelo a vida do poderoso editor David Aames e o fracasso nas vendas do projeto revolucionário de um tênis faz o jovem designer Drew Baylor ser humilhado e despedido pelo seu chefe.
A drástica reviravolta na vida destes personagens os conduz por um percurso catártico de auto-descoberta e aprendizado pessoal. Soma-se a isso a busca pelo pai por meio da idealização de um pai que supra as deficiências do pai real como em Vanilla Sky ou dos resquícios das memórias do escasso período de convivência com esse pai como em Elizabethtown.
Sem medo de explorar o fracasso como temática o cineasta nos conduz para o interior deste processo, no qual os protagonistas se redescobrem em meio ao insucesso e encontram ou reencontram neste percurso melancólico mulheres que os auxiliarão na retomada de suas vidas conduzindo-os a um novo recomeço. Dorothy (Reneé Zellweger), Sofia (Penélope Cruz) e Claire (Kirsten Dunst) representam a renovação e a possibilidade destes homens reinventarem-se por meio do amor e apoio que elas a eles dedicam. Secretária fiel, bailarina ou aeromoça essas mulheres são o escape e a esperança de um recomeço para estes protagonistas.
Parceria Crowe & Cruise
Todo cineasta tem seu ator ou atriz favoritos, com Cameron Crowe não é diferente. Além de colocar a própria mãe para fazer pequenas participações em seus filmes, Crowe elegeu Tom Cruise como seu protagonista predileto e esta parceria ultrapassa os sets de filmagem firmando-se como uma amizade de longa data e na sociedade na produção de seus filmes juntamente com a poderosa produtora Paula Wagner.
Ao mesmo tempo em que está a frente das câmeras dando vida a um protagonista do cineasta Cruise participa do processo de produção dos filmes do amigo, mesmo quando não está atuando como foi em Elizabethtown (2005).
Trilhas sonoras de qualidade: do filme para sua playlist
Pode-se dizer que a característica principal da filmografia de Crowe, seja o extremo cuidado do cineasta na escolha das canções que fazem parte de suas produções.
A qualidade musical de seus filmes talvez possa ser atribuída a duas razões: a experiência adquirida no trabalho como editor contribuinte da revista Rolling Stone e a colaboração da ex-mulher Nancy Wilson (vocalista da banda Heart) que assinou composições de diversos filmes de Crowe.
Independente das razões que justifiquem a qualidade musical de sua filmografia fato é que esta tornou-se uma espécie de identidade dos seus trabalhos equiparando-o com Tarantino, o qual também é mestre em trilhas marcantes.
Estilo Croweniano: para ver e se apaixonar
Por tudo dito até aqui nesta reflexão e análise sintética da carreira de Cameron Crowe, podemos concluir que é quase impossível não se encantar com o estilo croweniano, marcante pela abordagem leve e fácil de suas histórias e seu modo peculiar de tratar os relacionamentos humanos. Seus personagens carregam dúvidas e sentimentos tão reais que nos reconhecemos em alguns deles em seus dilemas e conflitos comuns à natureza humana.
Então cinéfilos de plantão borá ver, rever e se apaixonar pelos filmes e histórias cativantes do universo cinematográfico de Cameron Crowe!