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Critica – A cor do paraíso

A cor do paraíso: tateando a infância iraniana

Dirigido por Majid Majidi o filme A cor do Paraíso (1999) retrata a história da infância iraniana de Mohammad, um garoto cego e sua relação com o universo que o circunda. A natureza, familiares, colegas da escola, etc.

Prestes a entrar em férias da escola ‘especial’ em que estuda. Mohammad aguarda pelo pai Hashem que só o busca quando todos os demais alunos já se foram. O motivo da demora, logo é desvendado: o pai alega ao professor e ao diretor da escola não ter condições de criar o filho devido a perda recente da esposa.

Negada a permanência da criança na escola durante o período de férias. Resta ao pai inconformado, levar Mohammad para casa onde encontrará as duas irmãs e a carinhosa avó.

A partir daí acompanhamos a difícil relação entre pai e filho, devido à rejeição de Hashem pelo filho. Uma vez que pretende casar-se novamente e Mohammad seria um estorvo para seus planos.

O ponto de interação entre este cinema e a infância encontra-se na própria noção de movimento que compõe por si só a arte cinematográfica por meio da imagem em movimento e esta infância inquieta em seu caminho a percorrer, diante do qual as crianças estão em

[…]um movimento fundamental que as vai forçar a abandonar o seu imobilismo: vão talvez deixar a sua infância ou uma parte dessa infância, para se confrontarem com o mundo que as rodeia, através de uma perturbação interna que vai modificar os próprios fundamentos da sua frágil identidade. (LOPES, 2007, p.129-230).

Este mesmo movimento conduzirá o pequeno Mohammad de sua escola, na qual convive com colegas cegos como ele para a casa de seu pai onde convivendo com o restante de seus familiares enfrentará de perto as limitações que a sociedade impõe a sua condição desacreditando em sua autonomia, além de ter de lidar com a difícil convivência com um pai intransigente e que o vê como um estorvo.

Poético e dotado de uma sensibilidade singular novamente o cineasta iraniano nos brinda com uma reflexão sobre à vida por meio da figura infantil de Mohammad.

Ao invés de mostrar-nos uma criança cega incapaz e dependente nos expõe uma criança autônoma, sincera e inteligente. Antes de mais nada capaz de ensinar-nos por meio das ações carregadas de metáforas.

Destaque para algumas cenas em especial como a do ninho do pássaro, uma metáfora clara entre o protagonista mirim e o pássaro fora do ninho, perdido.

A atitude de Mohammad em capturá-lo por entre as folhagens secas da paisagem que circunda a escola faz parte da seqüência em que aguarda solitário o pai que demora em chegar. Podemos assim notar a mensagem contida nesta cena ao vermos que tal como o pássaro. Mohammad quer retornar ao seu ninho, ou melhor, a sua casa.

Esta cena ainda serve para desde já mostrar-nos a forte relação do menino com a natureza, tudo é muito sinestésico. Mohammad quer compreender o que a natureza diz seja por meio dos pássaros, flores, água, entre outros elementos.

Essa busca o acompanhará durante todo o filme. Inclusive a natureza que será utilizada como metáfora para o espectador refletir juntamente com esse personagem infantil.

Outra cena que merece destaque está no diálogo entre o garoto e o mestre carpinteiro. Também cego, ao relatar o que o professor da escola havia o dito para explicá-lo porque Alá criou os cegos.

Mohammad narra, ao mesmo tempo em que desabafa às lágrimas o seguinte trecho:

“[…] meu professor disse que Alá ama mais os cegos porque eles não vêem, mas eu acho que se fosse assim Alá não os faria cegos porque assim a gente não pode ver ele, mas ele respondeu que Alá é invisível, ele tá em toda parte, você pode sentir ele, sentir Alá com os meus dedos, agora procura Alá em qualquer parte até chegar o dia em que eu tocarei com meus dedos e aí vou falar tudo pra ele todos os segredos que eu guardo no meu coração.” (A COR DO PARAÍSO, 1999)

O desejo em compreender sua condição e o questionamento do ser divino funciona como uma catarse para esse personagem infantil. Ao final parece estar a caminho das respostas para as questões que perturbaram sua infância vivida na obscuridade.

Após discutir com o pai enquanto este o buscava de volta para casa um acidente acontece.

A nós espectadores a reação do pai de Mohammad parece em um primeiro momento passiva. Ao assistir o filho sendo arrastado pela força das águas, quase como se ao mesmo tempo em que quisesse evitar que a correnteza do rio levasse seu filho sentisse certo ‘alívio’ naquela situação.

Minutos depois o pai vai de encontro ao filho jogando-se na água tentando salvá-lo até encontrar o corpo do garoto na areia da praia.

Com o filho nos braços e as lágrimas o pai olha para o céu enquanto em revoada aves marinhas parecem anunciar que chegou o momento de recolher Mohammad. Logo após a câmera retoma para pai e filho focando-os por trás. E com um close up na mão direita do garoto que após ser iluminada por um raio de sol move-se como se quisesse nos dizer que agora enfim tocaria Alá com seus dedos.

E você o que achou deste filme? Manda para nós os seus comentários.

Referências
LOPES, José de Sousa Miguel. O cinema da infância. In: Educação e cinema: novos olhares na produção do saber. Porto – Portugal: Profedições, 2007(p. 125-141).

Filmografia
A COR do paraíso. Direção: Majid Majidi, Irã: 1999. 1 DVD(1h30),son., color.

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